Mensagem de Joaquim Caetano, morador da Casa de Maria Luiza – agosto/22
Não sou anjo.
Não sou alguém melhor do que ninguém.
Acumulo séculos de imprecisão, exclusivismo, queixas e mais flagelei do que me flagelaram.
149 anos desencarnado e 63 anos na Casa de Maria Luiza, e ainda me permito a raiva, a insubordinação e a avareza emocional.
No mundo das ilusões vivi opulência. Dirigi famosos órgãos públicos, fiz medicina, fui cônsul nomeado pelo Imperador. Fui patrono no Silogeu Brasileiro.
Morri como todos morrem. Cheguei como quase todos chegam. Despreparados!
Tudo que era, todos os títulos que amealhei, todo reconhecimento que me elevavam, não me valeram de nada!
Tal e qual, “choro e ranger de dentes”!
Há uma diferença e que, garanto, faz toda a diferença: contribuir a benefício de todos! Dar sem desejar nada, nada mesmo, de volta.
Isso é a realidade.
Não se enganem.
Hoje, presto serviços no Núcleo Cultural do Grupo a que pertencem. Todos os dias!
Muitos dias, ficamos eu e Douglas, apenas, atendendo uns tantos aflitos sem corpo e com corpo que por lá aparecem em busca de um pouco de atenção e consideração.
Reconheço o valor entre aqueles que, como eu, depositam ali suas virtudes e dedicação. Entretanto, sinto que poderia ser um ambiente tão mais valorizado, vivido e enriquecedor. Sinto que não cuidam desta assistência como poderiam. Se vissem quantos ali estacionam desejosos de uma palavra carinhosa, uma percepção, uma indicação.
Peço uma revolução naquele espaço nessa sua dimensão!
Até que isso ocorra, permanecerei fiel ao que me fora solicitado e cuidarei de treinar minha presteza. Sem exigir nada em troca.
Joaquim Caetano