Mensagem de Clemente, morador na Casa Transitória de Maria Luiza
Setembro, 2025.
Meus irmãos,
Trago-lhes uma confissão: quando vivi na Terra, errei muito dentro do meu próprio lar. Exigi demais dos que me cercavam, cobrava deles perfeições que eu mesmo não possuía. Queria que me entendessem sem que eu dissesse uma só palavra, queria que me dessem carinho sem que eu mesmo oferecesse. Em muitos momentos, tratei com frieza aqueles que mais me amavam.
A vida, porém, ensina, ainda que pela dor. Foi dentro da família que descobri o quanto é ilusório querer moldar os outros ao meu jeito. Demorei, mas aprendi que o único coração que realmente posso transformar é o meu.
Hoje compreendo que cada familiar é um companheiro de jornada, com suas feridas, suas lutas e seus limites. Esperar perfeição é alimentar mágoa certa. Mas escolher amar, apesar das diferenças, é construir paz.
Recordo-me de quantas vezes me calei por orgulho, quando poderia ter oferecido um abraço. Quantas vezes levantei a voz, quando bastaria um gesto de ternura. Quantas vezes me afastei, quando o que o outro precisava era apenas que eu permanecesse perto, em silêncio.
Foi no reencontro com o Evangelho que percebi: Jesus nunca esperou perfeição de ninguém. Ele acolheu o pescador rude, o cobrador de impostos desprezado, a mulher marcada pela culpa. Ele ofereceu amor antes de receber amor. E eu, dentro da minha casa, deixei tantas vezes de viver esse ensinamento simples.
Hoje peço a vocês, com toda sinceridade: não façam o mesmo. Se a palavra pesa em casa, seja você quem fale com doçura. Se a distância se alonga, seja você quem dê o primeiro passo. Se a indiferença fere, seja você quem ame sem esperar retorno imediato.
Não pensem que isso é fraqueza. É coragem. É maturidade. É viver o Evangelho, não apenas estudá-lo.
Se eu pudesse voltar, faria diferente. Vocês podem fazer agora. O tempo presente é uma dádiva, e o lar, por mais difícil que pareça, é uma escola bendita. Nele, Deus nos reúne não para ferir, mas para curar.
Com afeto e esperança,
Clemente
Morador em Maria Luiza
