– Sobre compaixão

Mensagem de Carla, moradora na Casa de Maria Luiza – julho/25

Meus irmãos,

Hoje peço licença para chegar mais perto. Não venho de longe, mas de dentro.
De um lugar que vocês também conhecem, mesmo que não tenham ido até lá.

Meu nome é Carla.
Hoje, moro em Maria Luiza — uma Casa de recomeços, de flores que nascem depois de longos invernos.
Mas por mais de quarenta anos permaneci no Vale dos Suicidas, onde me recolhi após abandonar meu corpo por falta de fé em mim.

E é de lá que trago um pedido simples, mas essencial: tenham compaixão.

Compaixão por vocês mesmos.
E pelos que caminham com vocês.

Porque, meus irmãos, há dores que não sabemos. Lutas que não se veem.
Há pessoas sorrindo com a boca e chorando com o peito.
Há quem diga “está tudo bem” com os olhos pedindo socorro.

E também há momentos em que somos duros conosco, demais.
Nos culpamos, nos comparamos, nos apressamos, nos castigamos como se o erro fosse tudo o que somos.

Mas não é.

Vocês não são seus erros.
São sementes de Deus, aprendizes da luz, ainda em processo de crescimento.
Como todos nós.

A compaixão é o olhar do Cristo diante da dor humana.
É a pausa que compreende.
É o silêncio que não julga.
É a palavra que acolhe.
Ela começa em nós.

Quando aceitamos que ainda estamos aprendendo.
Quando deixamos de exigir perfeição para abraçar a verdade: estamos a caminho.

E ela se estende aos outros, quando lembramos que ninguém erra por querer.
Que até aquele que nos fere, talvez esteja ferido demais.
Que o mal que nos atinge nem sempre foi planejado — às vezes é só consequência de ignorância, de medo, de desequilíbrio.

Ah, meus irmãos… Se vocês soubessem quantas vezes um abraço adia um suicídio…
Se soubessem quantas vezes um “eu entendo você” reorganiza o pensamento de alguém que queria sumir…
Se soubessem quanto uma simples gentileza pode clarear o coração de alguém que já não via saída…

Compadeçam-se.

Não precisam resolver tudo. Mas podem amar mais.

Ofereçam sorrisos, paciência, silêncio respeitoso, escuta.
Isso vale mais do que muitos conselhos.
Vale mais do que mil julgamentos.

E quando o dia estiver difícil, falem com Jesus.
Digam a Ele que está doendo, que está pesado, que não sabem mais o que fazer.
E Ele, como sempre, vai tocar onde ninguém vê e levantar vocês do modo mais bonito: de dentro pra fora.

Tenham compaixão.

Ela é o primeiro degrau da verdadeira caridade.
E a caridade… é o que salva.

Com ternura, e com o coração em busca da paz, 

Carla